O dia de finados é, naturalmente,
um dia triste, um dia de saudades. É um dia de preces, flores, lembranças,
lágrimas... Mas é um dia de carinho, amor, cuidado e esperança.
Sempre vi na tevê as multidões
que lotam os cemitérios no dia dois de novembro, que saem de casa no sol quente
(ou sob chuva), que enfrentam engarrafamentos, estacionamentos lotados, mil
barracas vendendo flores e vão visitar seus falecidos, prestar suas homenagens
e rezar por suas almas. Eu nunca tinha feito isso, nunca tinha ido a um
cemitério no Dia de Finados.
Este ano eu fui, não só para
participar da missa ou para rezar pelos meus avós e tios que estão enterrados
em Brasília, mas também para fotografar. Entretanto, a morte é uma realidade
tão intensa, tão certa, que não é fácil falar dela, não é fácil encará-la e
também não é fácil fotografá-la. Nem ela e nem os seus efeitos.
Dizem que o mundo de hoje não
sabe mais como lidar com a morte, mas me pergunto se, em algum momento da
história, isso já foi fácil um dia. E não estou falando da questão religiosa,
pois como cristão tenho a certeza de que, depois da morte, há realmente um
reino de glória para nós. Estou falando da questão humana, da morte como trauma
que rouba aqueles que amamos, que provoca dor, tristeza, choro e saudade, muita
saudade. Pois mesmo quando temos fé, ainda assim é muito difícil, muito duro.
Acho que só sendo santo para ter serenidade nestes momentos.
Pois bem, neste ano, sai de casa,
no sol, e, comigo, minha câmera e algumas dúvidas: o que vou fotografar? O que
devo fotografar? O que vou encontrar no cemitério e como guardar essas imagens?
Geralmente tenho algumas ideias do que fazer, mas neste dia não tinha nenhuma.
Pensava em registrar a emoção das pessoas, mas me preocupava com a privacidade
delas; pensei em aproveitar as multidões, me sentar num canto e fotografar meio
que invisível no meio de todos.
Só que não foi bem assim. O acaso
decidiu por mim já que, como era no meio da tarde, o cemitério já estava bem
mais vazio e acabei por fotografar algo que não esperava uma vez que não
encontrei um monte de pessoas. Naquela tarde tinha apenas pessoas, espalhadas,
sentadas, caminhando, rezando, conversando baixinho junto aos túmulos; tinhas
apenas pessoas.
Isso mexeu comigo e me fez agir
diferente: não pensei para fotografar. Apenas fotografei.